14 de março de 2011

Carnaval com consciência

Nos últimos dias, ausentei-me de Salvador pela primeira vez desde que aqui cheguei, em setembro. Aproveitando a folga do carnaval, saí na madrugada de sexta para sábado e cheguei na quarta-feira pela manhã. Minha esposa e eu estivemos em Campina Grande, na Paraíba, onde se realizou o Décimo Terceiro Encontro para a Consciência Cristã, promovido pela Visão Nacional para a Consciência Cristã (VINACC). A Norma foi convidada a dar uma palestra ali sobre a mentalidade esquerdista e politicamente correta e a oposição dessa mentalidade à cosmovisão cristã. Até pouco tempo atrás, não tínhamos certeza de nossa ida, pois o convite chegou durante a gravidez, em pleno período de repouso (para ela) e agitação (para mim). Mas essa fase passou, e lá fomos nós. A palestra foi pra lá de ótima, e parece que a maioria dos espectadores entendeu o recado. Mas aconteceram ali muitas outras coisas boas. Foram dias deveras enriquecedores, o suficiente para que eu decidisse escrever um post a respeito na primeira oportunidade.

Minha principal motivação para escrever é que, depois de ter estado lá, concluí que o evento não é devidamente conhecido e valorizado pelo público evangélico brasileiro, especialmente fora da região nordeste. Eu mesmo ouvi falar nele pela primeira vez há cerca de um ano, quando um amigo recebeu convite para falar ali. Ao chegar a Campina Grande, eu ainda pensava que se tratava de um ciclo de palestras com uns cem ou duzentos espectadores. Só aos poucos fui me dando conta da magnitude do evento e, consequentemente, da proporcional magnitude do meu equívoco. Basta dizer que no culto de encerramento havia cerca de cinco mil pessoas participando, sem contar outros milhares que perambulavam pelas redondezas. O total de pessoas que passaram pelo evento em algum momento ao longo de seus sete dias de duração deve estar perto de cem mil, segundo algumas estimativas que ouvi. E isso em uma cidade cuja população não chega a quatrocentos mil habitantes. Sem dúvida parte dessa multidão é composta de adolescentes que vão lá só para paquerar, bem como de outras classes de desocupados (não, é claro, que paquerar na adolescência não seja uma ocupação respeitável; digo "desocupados" apenas em relação aos objetivos do evento). É certo que números não dizem nada quanto ao conteúdo, mas, ainda assim, não deixa de ser notável que tão grande número de pessoas se reúna com o simples objetivo de adquirir e compartilhar conhecimentos e experiências na caminhada cristã. Não sei de nenhum outro evento evangélico do mesmo tipo tão bem frequentado em nosso país.


Falar sobre o conteúdo é um pouco mais difícil, em virtude da própria imensidão do evento. Em quase todas as ocasiões, havia dezessete palestras sendo ministradas de modo simultâneo. De quase todas elas, portanto, eu só conheço o título; de algumas outras, o título e o preletor. Pude, no entanto, aferir de modo indireto a qualidade de boa parte através do convívio com vários dos palestrantes. Afinal, ficamos quase todos no mesmo hotel, além de termos almoçado e jantado no mesmo recinto em quase todas as oportunidades. Foi assim que pude reencontrar e ter uma breve convivência com algumas pessoas conhecidas de outros carnavais (em sentido figurado): Augustus Nicodemus, pastor, teólogo e chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie, e Edson Camargo, jornalista e editor do Mídia Sem Máscara. Pude também enfim encontrar o pastor e teólogo Franklin Ferreira, da Editora Fiel, com quem eu até hoje apenas me correspondera pela internet. Há ainda uma categoria de pessoas que encontrei ali e cujo trabalho eu conhecia, em maior ou menor grau, sem, no entanto, jamais ter trocado com elas uma única palavra. É o caso da Marilene Ferreira, esposa do Franklin, que trabalha com educação infantil; de Tiago Santos, outro valioso obreiro da Editora Fiel; de Adauto Lourenço, teólogo e físico criacionista que tem causado certo rebuliço nos locais por onde passa defendendo cientificamente suas posições; do pastor Renato Vargens, especialista em neopentecostalismo e dono de um dos blogs cristãos mais lidos do país; e da psicóloga Rozangela Justino, que está lutando na justiça pelo direito óbvio de dar tratamento aos homossexuais que espontaneamente a procuram pedindo ajuda; ou, o que dá no mesmo, que está lutando pelo direito desses indivíduos ao tratamento que desejam.


Entre os palestrantes pertencentes a essa última categoria, não posso deixar de dar destaque especial a Don Richardson, pastor canadense sobre cuja obra missionária entre selvagens da Papua Nova Guiné eu fiz um post há alguns anos. Basta dizer que, dos três livros dele que li, dois (O totem da paz e O fator Melquisedeque) estão entre os mais importantes da minha vida, pois me abençoaram tanto na adolescência, quando os li, quanto nas batalhas espirituais e intelectuais posteriores. É uma pena que o velhinho não tenha dado todas as palestras que estavam programadas, em virtude de uma recaída momentânea na malária que o infectou nas selvas da Ásia décadas atrás. Mas fui muito abençoado por sua palestra e pelos poucos minutos de conversa que tivemos em seguida.


Há, porém, outra classe de palestrantes com quem tive oportunidade de conversar: aqueles de quem eu nunca ouvira falar e que, no entanto, estão fazendo um trabalho importantíssimo. Por esse mesmo motivo, esses irmãos são parte da motivação principal desta minha postagem. É o caso de Uziel Santana, jurista de Aracaju envolvido também na organização do evento; de Ricardo Marques, cientista cheio de diplomas (ele é neurocientista, psicanalista, biólogo e paleontólogo, e deve ser mais coisas) e ex-mago-médium-esotérico-rosacruciano; de Ciro Zibordi, pastor que aborda tendências heréticas no meio evangélico de hoje; de José Mário, professor de literatura que também aborda temas teológicos; de Cláudio Rufino, que trabalha na defesa dos valores familiares cristãos; e de Paulo Cristiano, sociólogo e apologeta estudioso de seitas diversas.


Além dos palestrantes, é claro, conheci vários outros irmãos que merecem menção, a começar pelo pastor Euder Ferreira, o líder geral da organização do evento, homem a quem Deus tem dado sabedoria e disposição para o trabalho a cada ano. Dentre os muitos crentes que trabalharam voluntariamente no evento, merecem destaque o pastor Valker e seu pai, Valdez, que serviram os palestrantes com eficiência até naquilo que não era obrigação deles. Conheci também o pastor Celso Mastromauro, o simpático, atencioso e generoso representante da Edições Vida Nova. (Aliás, outro grande atrativo do evento são os livros; boas editoras, com ótimos títulos a preços camaradas estavam lá: Vida Nova, Fiel, CPAD e várias outras. Fizemos uma pequena feira de livros, vários dos quais com autógrafos dos autores, e ainda ganhamos mais alguns.) E não posso deixar de mencionar três pessoas que, como eu, estavam lá apenas acompanhando os palestrantes: Minka, a esposa do Augustus; Ana, a esposa do Renato; e Bia, a filhinha do Franklin e da Marilene, de nove anos. Três pessoas que gostei muito de conhecer.


Havia ali pessoas de várias denominações cristãs: presbiterianos, batistas, assembleianos, congregacionais e muitos outros; calvinistas, arminianos, intermediários e indecisos; cessacionistas, continuístas e pentecostais; representantes de posições eclesiológicas e litúrgicas diversas. E, além disso, pessoas de todas as partes do país e de todos os níveis culturais e sociais. E há diferenças de outros tipos nos campo político, filosófico e epistemológico, por exemplo. Eu mesmo tenho ressalvas quanto a alguns posicionamentos de vários dos palestrantes. Contudo, prevaleceu sobre tudo isso a convicção de que o que temos em comum é mais valioso que o que nos separa; e, acima das divergências, pairou intocada a disposição de aprender uns com os outros e adorar em conjunto ao Senhor Jesus Cristo, a quem cabe por direito a tarefa de separar as boas obras das más. Foi para mim um prazer enorme conviver alguns dias com uma pequena, mas tão diversificada, parcela do povo de Deus e cultuar dessa forma o nome daquele que nos salvou a todos.


Se Deus permitir, pretendo ir a Campina Grande em muitos carnavais futuros, e contribuir para o sucesso do empreendimento por todos os meios que estiverem ao meu alcance. Pessoas que lá estiveram em anos anteriores testemunharam que o evento vem crescendo em qualidade, projeção e infraestrutura a cada ano. Deixo aqui meu incentivo a todos os meus irmãos para que valorizem essa obra do pastor Euder e seus colaboradores, orem, contribuam e, é claro, desfrutem.